O Incentivo do Festival da Tapioca na Ilha de Mosqueiro fomentando a cultura local objetivando atrair turistas e visitantes
Resumo: O artigo trata do incentivo da gastronomia da Ilha do Mosqueiro, apontando como prato atrativo principal as famosas tapioquinhas da região Norte e Nordeste do Brasil conhecidas pelo país a fora apontando tendências para a realização de um festival anual na ilha com a finalidade de divulgar a gastronomia da região através de um produto cultural local a fim de recepcionar de modos excelentes turistas e visitantes que vão à ilha no mês de julho e ainda estimular outros turistas e visitantes a freqüentar a localidade esquentando a economia com maximização dos lucros oriundos da atividade turística aliados aos fatores culturais relacionados à gastronomia local, mas diretamente, às tapioquinhas produzidas no local há aproximadamente cem anos.
Palavras - chave: Gastronomia, Cultural, Patrimônio, Economia
1 – INTRODUÇÃO
A bela ilha do Mosqueiro está localizada à costa Oriental do rio Pará, em frente à Baia do Guajará, a 70 km da capital do estado, seu nome é originário da palavra “moqueio”, que era como os índios Tupinambás que habitavam a região preparavam o peixe para que este tivesse maior durabilidade, carinhosamente chamada de bucólica pelos paraenses por causa de suas belas paisagens cênicas e grandes extensões de 17 praias de água doce, neste paradisíaco cenário, precisamente, na Vila da Ilha de Mosqueiro, se concentram as barracas de tapioquinha, uma tradição que perdura por 100 anos, movimentando a economia da localidade, gerando emprego e renda para as populações locais, conferindo-se em atrativo gastronômico, passado de geração em geração, assegurando-se como atividade de raiz da terra, como conta o senhor Elizeu Barbosa que está nesta atividade a mais de 50 anos ao lado de sua esposa, sendo que quem deu inicio a estes trabalhos foi sua sogra, que por não haver emprego, esta foi a forma que encontraram para suprir o sustento da família. Atualmente o senhor Elizeu Barbosa é o presidente da Asbavetim- Associação dos Barraqueiros Vendedores de Tapioca e Comidas Típicas de Mosqueiro, a classe lutou desde 1996 para que associação fosse reconhecida, entretanto, somente em oito de janeiro, através de um decreto assinado pelo Duciomar Costa é que a associação passou a valer de fato e de direito.
2 - A GASTRONOMIA COMO INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL NO ÂMBITO DA ATIVIDADE TURÍSTICA
É impossível negar que a gastronomia não esteja diretamente relacionada ao turismo, representando um fator de grande relevância para a atividade, em decorrência de primícias culturais, podendo estimular indivíduos ou grupos de pessoas à visitação de determinada destinação. É o que relata, (Ignarra, 2002 p.82) quando cita que “existem outros grupos que viajam com o objetivo principal de provar a gastronomia típica de cada região”.
Então com muita propriedade, dada a relação da gastronomia com a atividade turística, que se afirma:
O serviço de alimentação é um dos segmentos a serem observados dentro da cadeia produtiva do turismo, uma vez que várias dimensões que estão vinculadas a este segmento, envolvendo desde os aspectos econômicos até o de segurança alimentar, são imprescindíveis para a sua sustentabilidade e competitividade (NEIT-IE-UNICAMP, 2006).
A alimentação é um fator de relevância no âmago da atividade turística, haja vista, a diversidade de características, pois, o setor de alimentação com seu dinamismo geram emprego e renda, fazendo parte dos atrativos culturais das localidades, sendo inserido em um dos tipos de Roteiro Turístico (Gastronômico), sendo, entretanto, pouco estudado em abordagem turística.
A culinária apresenta como característica cultural relevante a especificidade de cada local e sua população tradicional, atraindo deste modo, turistas e visitantes que desejem apreciar modos de vida característicos da população de diversificadas destinações turísticas. Neste contexto, observa-se, que determinadas distâncias existentes entre turistas e residentes de locais visitados, deixam de existir quando os primeiros apreciam a culinária local, o que se comprova a seguir:
Há certas culturas que desenvolveram pratos extremamente sofisticados e reveladores de seu temperamento, transformando o ato de alimentar-se em uma outra “viagem”, principalmente para o visitante.Experimentar os pratos tradicionais dos anfitriões é em parte, mergulhar nela e diminuir a distância social que possa existir entre visitante e visitado.(MENDONÇA, 2001).
Dessa forma sendo o turismo uma atividade embasada na sustentabilidade, e esta, sistematicamente, organizada em parâmetros econômicos e socioambientais, observa-se que a apreciação da gastronomia por visitantes é um fator relevante no que concerne às relações sociais, estimulando o estabelecimento de um vínculo entre as pessoas.
Numa visão abrangente e globalizada a alimentação pode ser vista como um fator favorável em termos de vantagem competitiva dentro de um segmento de turismo gastronômico, resgatando o patrimônio regional e a identidade nacional, no contexto global, tal fato, expressa o modo de ser de um lugar valorizando o aspecto gastronômico/cultural o que desencadeia a exploração de nichos de mercado específico.
Ainda a título de ressaltar, vale salientar, que a gastronomia como fator gerador de cultura local, une visitantes e residentes, favorecendo a vida do homem em sociedade, rompendo barreiras, muitas vezes intransponíveis como relata (Rita Mendonça, 2001 p.24) “interessar-se pela alimentação significa romper barreiras socioculturais, respeitar e reconhecer nessas culturas sua especificidade.”
3 – A IMPORTANCIA DA TAPIOQUINHA DO NORTE E NORDESTE DO PAÍS COMO ESTIMULO ECONÔMICO E CULTURAL.
As tapioquinhas elaboradas com uma goma extraída da mandioca são conhecidas no Brasil inteiro, haja vista, os diversificados festivais do produto que acontecem por todo país. Nos primórdios da ocupação portuguesa por todo litoral brasileiro, os índios ensinaram aos lusos os procedimentos para o preparo daquilo que seria o “pão brasileiro”, desde a extração da farinha branca denominada goma, que deixada de molho em água limpa e posteriormente, seca com um pano limpo, passada na peneira, levada em uma frigideira ao fogo, a goma une-se formando um alimento sólido garantindo assim a refeição dos primeiros moradores do Brasil. Entretanto, para os portugueses, era necessário acrescentar sabor a esta mistura, foi quando houve a adição de sal e manteiga na intenção de incrementar o sabor.
Atualmente as tapiocas são comercializadas, praticamente no Brasil inteiro, com sabores e cores diversificadas, haja vista, o que ocorre na Cafeteria Pelé Arena, que possui três unidades na capital paulista, onde ocorre a temporada da tapioca, por essa ocasião, os clientes poderão degustar oito sabores do produto, e, entre doces e salgadas, aos preços de R$ 5,00(cinco reais) a R$7,50(sete reais e cinqüenta centavos).
Seguindo pelo país a fora, encontra-se a comercialização do produto também em Brasília, em uma casa de comida nordestina, o Restaurante Fulô do Sertão, que oferece em seus cardápios diversificados pratos dessa cultura, além das gostosas tapiocas que são servidas a qualquer hora do dia e ainda com preços promocionais. Já em Pernambuco o Restaurante Parraxaxá, explora o ramo através do festival da tapioca que já ocorre desde 2006 com a finalidade de incrementar a culinária nordestina, escolheram a tapioca por ser regional e tradicional, evitam recheios industrializados, oferecem opções doces e salgadas. As caldas e geléias utilizadas são de elaboração artesanal, o sorvete utilizado no recheio é terceirizado, no caso do sorvete de cachaça, o álcool evapora, não ocorrendo, portanto, embriaguez por quem ingere o produto.
Percebe-se o estímulo que a economia de uma localidade recebe através do turismo e de eventos que possibilitem presenças de turistas e visitantes é de grande peso, derivado do efeito multiplicador do dinheiro que entra na região através do turismo de modo direto ou indireto, é o que relata Margarita Barreto, (2003 p.72) “o turismo tem efeitos diretos e indiretos na economia de um país.” O efeito direto estaria ligado ao gasto do turista com infraestruturas relacionadas a hotéis, pousadas, restaurantes, bares e outras, dentre estas o fator alimentação apresenta grande relevância dentro da atividade turística, estimulando diretamente a economia da destinação turística.
4 – UM POUCO DA HISTÓRIA DA ILHA DO MOSQUEIRO.
A ocupação da Ilha do Mosqueiro começou a partir do século IXX, com a exploração do ciclo da borracha, época em que a ilha recebia estrangeiros com muito dinheiro, quando começaram as primeiras construções de casarões até hoje existentes na ilha, nesse momento houve a valorização da ilha. O acesso se dava por via fluvial, porém, em 1968, com inauguração da rodovia, houve a expansão propriamente dita dando vazão à especulação imobiliária que se expandiu nas praias do Ariramba e São Francisco, logo depois em 1976 com a construção da ponte Sebastião Oliveira o processo ocupacional da Ilha do Mosqueiro volta a se acelerar.
Conta a história que na época da segunda Guerra Mundial, em 1945, os oficiais do exercito faziam suas refeições matutinas, no mercado da Vila e já degustavam as famosas tapioquinhas da Ilha do Mosqueiro, fortalecendo este costume, foi nesse momento da história que muitos canhões foram instalados na praia do Chapéu Virado, com a finalidade de abater submarinos alemães de carga ou de passageiros que se aproximassem.
Depois de tanta euforia de especulação ocorrida após a construção da ponte Sebastião Oliveira, nos últimos 10 anos Mosqueiro passa por um período de dificuldades no que diz respeito à especulação imobiliária, é comum encontrar nos classificados de O liberal, propriedades muito abaixo do preço de tabela, os imóveis vêm se desvalorizando dia-a-dia, ocorrendo um processo de desvalorização. Para Maria Gorette da Costa Tavares, Doutora em geografia pela UFRJ, Professora do Departamento de Geografia do CFCH da UFPA, a desvalorização imobiliária ocorre por falta de ações oficiais nos últimos 10 anos.
Percebe-se o esquecimento da Ilha do Mosqueiro por parte das políticas públicas o que contribui para o descaso total da ilha, contribuindo para o processo que se instala a uma década, e, portanto, dentro deste contexto, promover e incentivar eventos na ilha fará com que esta volte a ser a bucólica de anos atrás, recebendo visitantes, estimulando o turismo de estrangeiros e mesmo visitantes oriundos de Belém, o que de certo modo vai refletir na economia da região e até mesmo estimular o processo de especulação imobiliária da ilha, conferindo às residências o real valor delas, contribuindo para a valorização da ilha.
5 – CONCLUSÃO.
Em 1985, por iniciativa da ex-ministra da cultura da Grécia, Melina Mercouri, surgiu à idéia das capitais culturais pelo mundo a fora, constituindo Atenas, como a primeira capital cultural no mundo, este procedimento tem como objetivo fomentar a cultura de cada região e suas diversidades de maneira a integrar povos permitindo uma gama de conhecimentos mútuo entre as pessoas, a fim de promover cidades, regiões e até mesmo países. Nesse contexto Atenas foi a primeira Capital da Cultura, seguida de outras pelo continente Europeu a fora.
A partir do ano de 2006, foi a vez de o Brasil escolher sua primeira Capital Cultural, foi Olinda em Pernambuco, já em 2007 foi a cidade de São Jõao Del Rei em minas Gerais,em 2007 a cidade escolhida foi Caxias do Sul e neste ano(2009) a cidade escolhida foi São Luis MA, o evento que conferiu o título ocorreu no dia 10 de março de 2009 e contou com presenças relevantes, o projeto organizado e implementado pela ONG CBC, conta com o apoio do Ministério da Cultura, do Ministério do Turismo e da UNESCO, O objetivo deste trabalho é fomentar a identidade e o conhecimento de cada povo, estimulando a auto-estima dos mesmos, promovendo as culturas regionais do Brasil objetivando integração nacional e a inclusão social através da cultura.
Então atentando para o fator cultural, dá-se o incentivo de fomentar o comércio das tapioquinhas na Ilha do Mosqueiro e ainda incentivar a associação das tapioqueiras, ASBAVETIM, juntamente, com o poder público a promover o Festival da Tapioca, anualmente, precisamente, no mês de julho , quando Ilha recebe o maior fluxo de turistas, visitantes e excursionistas, gerando um estímulo na economia, trazendo benefícios lucrativos para a população local, aumento da auto-estima das populações locais ao verem seu produto apreciado e consumido, favorecendo o conhecimento desta iguaria culinária a um maior número de pessoas. O evento deveria seguir um padrão sistemático anual até tornar-se tradicional, se inserido como patrimônio imaterial da Ilha do Mosqueiro.Para assegurar que esta tendência é possível diz-se:
Alguns eventos cumprem uma programação regular e tradicional durante o ano, mesmo quando afetados por circunstâncias negativas, principalmente condições estacionais ou cíclicas adversas.(ZANELLA, 2003).
Embora se pense que patrimônio esteja ligado a bens materiais, sabe-se que não é bem assim, o patrimônio pode ser material (tangível) e imaterial (intangível), deste modo toda e qualquer expressão, saberes e fazeres de um povo, incluindo sua gastronomia se constitui patrimônios imateriais.
Patrícia P. Ventura*
*Graduanda do quarto semestre do curso de Turismo da Faculdade de Belém - Belém - PA.
Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1914937